Andy Maggioli

Saúde

Equipe multidisciplinar da Maternidade de Campinas realiza cirurgia intrauterina

por Andy Maggioli em 02/08/2019 Maternidade de CampinasUma equipe multidisciplinar da Maternidade de Campinas realizou, pela primeira vez na região metropolitana de Campinas, uma cirurgia intrauterina por fetoscopia (com o bebê ainda no útero, sem incisão no órgão) em uma gestação de 26 semanas com diagnóstico de mielomeningocele. Trata-se de uma malformação congênita no fechamento do tubo neural, deixando a medula exposta ao líquido amniótico. Essa lesão ocasiona comprometimentos motores e neurológicos ao bebê.

Caso o tubo neural não seja fechado naturalmente durante a gestação, podem ocorrer perdas motoras na pelve e membros inferiores do bebê, prejudicando a sua habilidade de caminhar e de conter urina e fezes. Pode ocorrer também a hidrocefalia, dilatação dos ventrículos cerebrais, por acúmulo de líquor. Quanto mais alta for a lesão na coluna vertebral, maiores serão os riscos de a criança precisar andar com auxílio de muletas ou de cadeira de rodas, além das dificuldades de controle de fezes e de urina.

A deficiência da ingestão do Ácido Fólico (vitamina B9) pode contribuir para a mielomeningocele, assim como o uso de medicações e histórico genético. A introdução desta vitamina para as mulheres que desejam engravidar é fundamental para a profilaxia deste defeito e deve ser iniciada meses antes. Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a cada ano, cerca de três mil bebês são diagnosticados com a mielomeningocele fetal.

A cirurgia para corrigir o defeito na coluna do feto foi realizada no dia 4 de julho último. Os bons resultados já puderam ser notados no controle pós-cirúrgico, como a diminuição da herniação do cerebelo, conhecida como Arnold Chiari. Esta cirurgia diminui em muito o risco de complicações após o nascimento, como a hidrocefalia, a necessidade de se fazer uma derivação ventriculoperitonial e meningites. No entanto, as sequelas motoras podem não ser totalmente reversíveis.

Segundo o estudo MOMS, que é uma análise mundial para avaliar o desempenho da cirurgia, a melhora cognitiva é significativa. Esses dois fatores - diminuição da necessidade de derivação e a melhora cognitiva - são as motivações para esse tipo de intervenção cirúrgica.  O feto e a mãe mantiveram-se em ótimas condições durante todo o procedimento, com alta da paciente pedida no quarto dia pós-operatório. Participaram do procedimento médicos obstetras, neurocirurgiões, cirurgiões pediátricos, ultrassonografistas, geneticistas, e anestesistas, todos com atuação em Medicina Materno-Fetal.
A identificação da família não foi revelada, respeitando o código de ética médica. No entanto, a divulgação desta doença, das suas formas de prevenção, da possibilidade do diagnóstico intrauterino precoce e das informações sobre a cirurgia fetal, em alguns dos casos, são fundamentais para a diminuição das graves consequências desta malformação.

As gestantes cujos bebês recebam o diagnóstico precisam ser orientadas sobre as possibilidades de tratamento. Embora os primeiros sinais da doença possam aparecer a partir da 12ª semana de gestação, o diagnóstico é possível, por ultrassom, a partir da 16ª semana. A cirurgia fetal pode ser indicada entre 24 e 26 semanas de gestação, e é necessária a abordagem multidisciplinar.

“A Maternidade de Campinas é uma instituição centenária que se atualiza de forma permanente e que busca inovações em tecnologia de ponta para sempre poder prestar a melhor assistência a todos os seus pacientes. Com isso, a instituição firma-se cada vez mais como referência de um hospital moderno e eficaz”, diz o presidente da Maternidade, Dr. Carlos Eduardo Ferraz.

Fetoscopia
As cirurgias de correção de patologias intrauterinas não chegam a ser uma novidade. Membros desta equipe já realizaram a primeira cirurgia feita no Brasil, há 16 anos, na Universidade Estadual de Campinas. Há alguns anos, a correção de mielomeningocele era realizado apenas abrindo o útero e expondo o bebê, como em uma cesariana, e hoje a fetoscopia passa a ser opção menos invasiva.

O procedimento realizado pela equipe do corpo clínico da Maternidade de Campinas tem os mesmos princípios que a laparoscopia. No entanto, é mais complexo, necessitando de fetoscópio e de ultrassonografia intraoperatória para direcionar a cirurgia, além de anestesia diferenciada. Com essa técnica, foi possível o fechamento antecipado, antes do nascimento, do tubo neural para a proteção das raízes nervosas da medula e para neuroproteção fetal.

A equipe responsável pela cirurgia foi formada pelo Professor Dr. Marcio Miranda (cirurgião pediátrico), Dr. Matheus Dal Fabbro (neurocirurgião), Professor Dr. Kleber Cursino (ultrassonografista especialista em Medicina Materno Fetal), Dra. Giuliane Jesus Lajos (obstetra de alto risco), Dr. Gustavo Novask (cirurgião geral), Professor Dr. Walter Pinto (geneticista) e pelos anestesistas Dr. Marcel Rodrigues Ferreira e Dr. Luiz Fernando Carlin Mutterle.

“Na cirurgia fetoscópica, o útero é exposto e o feto é operado através de trocaters, instrumentos utilizados para criar um ou mais acessos, pelos quais o cirurgião pode introduzir as pinças milimétricas e a ótica para a videocirurgia, tornando o procedimento minimamente invasivo e com menor risco materno-fetal”, explica o Dr. Marcio Miranda.

O resultado esperado é a reversão da hidrocefalia, o que reduz a necessidade de derivação dos ventrículos e o consequente melhor desenvolvimento neuropsicomotor do bebê. Entre as vantagens da cirurgia fetoscópica estão a delicadeza na cirurgia fetal, a preservação do útero materno, a diminuição de rotura da bolsa e da incidência de parto prematuro, possibilitando inclusive o parto natural.

Conteúdo disponibilizado pela assessoria de imprensa.
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